É a história da família de margarina.
Mas antes de contar a história quero dizer que de hoje em diante Maria será todos nós: eu e você somos todas Marias. Mulher comum, que como toda mulher, sofre, chora, sorri e tem
esperança.
E essa Maria não é diferente. Hoje ela percebe o quanto sofreu mas não via. Se por um lado isso é ruim porque a fez permanecer por muitos anos ali, por outro alimentou a sua esperança naquilo que achava ser verdade...
Vou te contar melhor.
Maria foi criada para casar e ter filhos. Construir uma família perfeita. E quando encontrou João achou que ele era o príncipe da sua vida. Antônio não era tão perfeito assim, mas ela acreditava que ele mudaria depois do casamento, afinal de contas, ela daria um “jeito” nele.
Maria teve dois filhos. Viveu para casa, seus filhos, João e ainda trabalhava demais – dentro e fora de casa. Maria não dormia; desmaiava de tão cansada.
Sentia-se sobrecarregada mas sempre achava que podia se organizar melhor, dar conta de tudo. Era como se sempre tivesse algo para Maria melhorar em si, os outros não. Aliás, ela dizia
que não podia exigir nada de ninguém porque “cada um dá o que tem” e o “papel” dela era zelar pelo lar.
Maria investiu pesado. Toda a sua mocidade, saúde física, mental e emocional, tempo e energia.
Era pior que Casas Bahia – dedicação total a vocês! E Maria era ótima nisso. Ela conseguia dar conta de tudo e ainda sorria. Era como se o seu valor estivesse em tudo que dava conta de fazer.
Maria era solitária, e, no fundo ela sabia disso, mas preferia ser muito sociável e não se ligar a isso. Quando chegava “na tampa”, Maria se irritava, mas nada mudava.
Maria tinha o casamento perfeito: aos olhos alheios tinha uma boa condição social, estava sempre bem apessoada, era tida como “mãe exemplar (mas é claro que não se achava, podia melhorar mais), tinha uma boa casa e um bom carro. Passeava aos finais de semana. Viajava e de vez em quando até para fora do Brasil. Ninguém diria que Maria era profundamente triste.
Seus olhos diziam, mas ninguém via; nem mesmo Maria...
Maria se sentia diminuída e humilhada. Entre 4 paredes sua capacidade profissional era questionada, sua maternidade perfeita também, sua fala não tinha muito valor e estava sempre errada, atarantada, e o caos que se instalava na casa com milhares de coisas que se acumulavam era “culpa” dela.
E Maria comprava essa história...
Maria foi traída inúmeras vezes, mas é claro que só veio descobrir depois, até porque João nunca aparentou ser “desse tipo”. Ele era homem muito bom...
Maria demorou a ver..., mas viu. E quando o cérebro vê não dá para desver. O casamento acabou. Maria estava livre!!!!
Maria tinha marcas que nem sabia que tinha. Maria continuava se sentindo menos, continuava presa mentalmente a João e de alguma forma, ele sabia disso.
Maria ainda sofreu bastante até recuperar a única parte de si que deixou pelo caminho e que jamais deveria ter deixado – seu poder pessoal.
Sofreu com João.
Sofreu com seus filhos.
Sofreu com raiva de si mesma por ter se permitido sofrer por tantos anos.
E até hoje Maria ainda escuta: Mas você sofria? Seu casamento era tão perfeito. Eu mesma queria ter um casamento assim!
Essa é a família de margarina: Na foto um sorriso, na intimidade um buraco na alma.
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A história da Maria do e-mail foi mais ou menos essa. Assim como a minha história também.
Maria somos todos nós.
Talvez Maria tivesse nascido em um lar disfuncional, com pais que se relacionavam de forma tóxica, muita repressão e humilhação disfarçadas de “bons costumes”. Eu pelo menos vivi em um assim.
Talvez você seja mais uma Maria – e se for, me conta tá?
Talvez hoje você esteja juntando os “cacos” e tentando colar, mas
sabe que nunca mais voltará a ser como antes.
Talvez você nem queira que seja como antes... Talvez nunca tenha
sido você de verdade.
Talvez a única pergunta que ecoe aí dentro seja mais ou menos essa:
Quem é você na fila do pão?
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